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Cultura Música

Quanto mais Belchior fugiu, mais foi encontrado

Fundador de bloco em homenagem ao artista conta como ele analisava, através da música, "o homem e seu tempo"
Emicida ao lado de Belchior: novas gerações ouvem grito de socorro nos versos do compositor, morto em 2017 Foto: Bloco Volta Belchior
Emicida ao lado de Belchior: novas gerações ouvem grito de socorro nos versos do compositor, morto em 2017 Foto: Bloco Volta Belchior

O verso mais comentado nas redes sociais nos últimos dias foi gravado por Belchior há mais de 40 anos e escrito no início do século passado pelo poeta Zé Limeira. “Ano passado eu morri, mas esse ano eu não morro” é cantado pelas novas gerações , que reconhecem naquelas palavras um grito de socorro para os tempos atuais. Esse não é um caso isolado. Toda a obra de Belchior está sendo revisitada.

O último show realizado pelo artista foi em Colatina (ES) em 2007. Depois, Belchior decidiu sair de cena para dedicar-se a outros processos criativos. Na prática, valeu-se do direito de desaparecer e rompeu não só com o showbusiness, mas com a própria sociedade. Seguiu em autoexílio pelos descaminhos do Sul do país, onde faleceu em 2017 .

Agora, as novas gerações fazem seus versos serem recitados por intérpretes Brasil afora. Belchior era um poeta que decidiu usar da música para ser mais popular. Filosófica e existencialmente, ele analisava “o homem e seu tempo”, mas com uma linguagem universal, com a profundidade para ser atemporal.

Parece que Belchior sabia da divina tragédia humana que se abateria no país, o que o tornou um fenômeno contemporâneo. Comprovamos o crescimento deste sucesso nos últimos cinco anos, desde quando fundamos o Bloco Volta Belchior, em Belo Horizonte.

Em 2020, mais de 150 mil “belchianes” participaram do nosso desfile. Inacreditável, mas quanto mais Belchior fugiu, mais foi encontrado.

* Kerison Lopes é jornalista, fundador e coordenador do Bloco Volta Belchior