O que é Clepsidra?

O que é Clepsidra?

O início da mudança de perspectiva

Apesar do nome parecer estranho e com uma pronúncia difícil, clepsidra nada mais é que um instrumento de medir o tempo. Um instrumento que a água escorre pelo bocal da ampulheta e quando esta ampulheta está vazia a água do bocal cessa e isso simbolizava que o tempo acabava. A clepsidra é o tataravó do relógio mecânico. Ela foi um dos primeiros instrumentos tecnológicos que procuraram medir o tempo que apareceu, sobretudo, na civilização grega.

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As primeiras civilizações não sabiam medir o tempo. E souberam, por exemplo, que um ano era o momento que separava duas posições do Sol exatamente no mesmo local, no céu, e onde todas as estrelas da noite voltavam à mesma posição. O ano solar é uma maneira quase universal de contar o tempo.

No entanto, antes mesmo de um instrumento medidor, a natureza em si e a observação humana fazia esse papel. As pessoas percebiam a passagem das estações. Eles percebiam o cair da noite e o sol, que retornava. E com isso, percebiam que podiam antecipar um dia, dois dias, um mês, dois anos. Só que estavam numa posição de passividade em relação ao futuro. Era preciso esperar a volta da primavera, do inverno, o dia, a noite, etc.

Foi na civilização grega, por outro lado, que perceberam a necessidade de contar o tempo durante a fala dos oradores, por exemplo. Ou no processo para que a acusação e a defesa tivessem o mesmo tempo da palavra. Buscavam medir o que se acreditava ser justo. A Lua e o Sol eram totalmente ineficazes para limitar essas necessidades.

Medir. Foi uma exigência politica, social que permitiu um tempo convencional, sempre igual, em oposição ao tempo natural, que era muito mais evidente, mas que tinha o inconveniente de ser desigual.

As pessoas não viviam o mesmo tempo. Um camponês que vinha do campo para vender suas frutas e legumes vivia no ritmo sazonal do seu trabalho agrícola, enquanto o padre, que vivia na cidade, tinha o ritmo da liturgia, e o soldado tinha o da ordem e manutenção. Havia uma enorme diversidade de horários.

Dessa maneira, percebeu-se a necessidade de algum instrumento que fosse regulatório. E com isso, veio depois um dispositivo extraordinário, o relógio mecânico. Ele implementa exatamente a ideia de que o tempo consiste de uma sucessão de pedaços idênticos. Do mesmo modo que você pega uma régua e corta em pedaços iguais, quando você junta tem o mesmo comprimento. Agora surge a ideia de que o tempo é uma sucessão de pedaços iguais e quando junta esses pedaços tem um período mais extenso.

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Daí o dia passa a ter vinte e quatro horas fixas, e é a hora do nascer e do por do sol que muda. Assim, o homem se liberta do sol, da naturalidade do que antes era um tempo. No entanto, o então tempo do relógio regulamenta uma medida igualitária, mas não consegue regulamentar o significado dessa medida para todos. Ou seja, apesar da marcação do relógio, inicia o sentir do tempo de forma diferente para cada um, para cada trabalho, para cada condição social.

Na verdade, é a sociedade industrial que vai, a partir do inicio do século XIX, impor um ritmo excessivamente disciplinado. Fala-se em disciplina de fábrica. São os horários, o relógio de ponto. Entra-se na fábrica, faz-se o trabalho, depois vai embora. É tudo muito ritualizado e cria a chamada vida cotidiana.

Hoje duas coisas são praticamente universais, os algarismos hindu-arábicos ( do zero ao dez) e o calendário. Todos nós partilhamos o mesmo calendário, dividimos em 24 horas, 60 minutos, 60 segundos… isso é uma invenção. Nada tem de natural.

O relógio mecânico e a sua disseminação foram mais revolucionários do que a pólvora que mudou o movimento, do que o papel que mudou a memória, do que a bússola que mudou o espaço, porque o relógio mecânico mudou o tempo.

Portanto, vale destacar que tudo começou com a água. A água como medida, como ponderação. O tempo assim como a água são elementos naturais impulsionadores de transformação, de mudança. E essa mudança também pode ser associada com crescimento. Pegando como exemplo a formação das cachoeiras. Para existir elas dependem da força que as águas percorrem sob as pedras que com o passar do tempo formam caminhos capazes de desenhar as quedas. Cachoeiras são quedas de água crescente.

A invenção da clepsidra, contudo, foi um marco não só do tempo, mas também do comportamento humano. Estabeleceu parâmetros, comparações, a partir do momento que se mediu o que antes era totalmente natural e imensurável. Era antes algo apenas sentido, vivenciado.

Fonte: trechos do documentário "Quanto tempo tem o tempo".

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