• Marisa Meltzer
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Ford Models (Foto:  Divulgação/ Shawn Brackbill)

Ford Models (Foto: Divulgação/ Shawn Brackbill)

Durante a Semana de Moda, todos estão sob olhares atentos - as modelos nas passarelas, os estilistas, o exército de cabeleireiros e maquiadores nos bastidores, a imprensa, celebridades e influenciadores; todos trabalhando 24 horas por dia, 7 dias por semana, enquanto a semana se desenrola fisicamente e virtualmente através das redes sociais.

Em contraste, as agências de modelos são talvez as melhores figuras dos bastidores e o mundo deles é quase sempre um caso privado. E como a era digital e socialmente ativa mudou nossa percepção sobre as modelos nos últimos anos - desde a sua presença no Instagram ao bem-estar e condições de trabalho - as agências também mudaram com o tempo.

Mas a curiosidade ainda permanece: o que as agências de modelos fazem, exatamente?

Ford Models (Foto:  Divulgação/ Shawn Brackbill)

Ford Models (Foto: Divulgação/ Shawn Brackbill)


Com o início do mês da moda na cidade de Nova York, a Vogue foi atrás da fachada de uma das agências mais importantes do mundo - a Ford Models - cujos principais nomes nos deram uma visão de como funcionam.

Nancy Chen (Foto:  Divulgação/ Shawn Brackbill)

Nancy Chen (Foto: Divulgação/ Shawn Brackbill)


Nancy Chen, ex-CEO (atualmente fundadora da The Launch)

“Não vejo o bem-estar de nossos modelos como uma iniciativa corporativa,” disse a ex-CEO Nancy Chen de seu escritório minimalista no distrito de Flatiron em Manhattan. “Isso sempre fez parte do plano de gestão: conversar com cada talento individualmente e entender o que eles precisam.”

Quando se tornou CEO da agência em 2016, Chen tomou ações rápidas para reposicionar uma empresa que "havia caído um pouco no mercado editorial e se tornou um pouco comercial... ela precisava ser restaurada." Não há dúvida de que a Ford tem um tremendo histórico. Sua fundadora, Eileen Ford, descobriu alguns dos rostos mais famosos do século 20 - Carmen Dell'Orefice na década de 1950; Jean Shrimpton na década de 1960; Jerry Hall na década de 1970; Christie Brinkley e Brooke Shields na década de 1980; e Christy Turlington e Naomi Campbell na década de 1990. Mas em 2014, a Ford perdeu sua matriarca - Eileen morreu aos 92 anos - e por um tempo a agência parecia estar perdendo o rumo.

Sob a direção de Chen, a Ford Models passou por uma reforma ambiciosa, procurando os princípios fundadores de Eileen como uma forma de responder ao cenário em 2018. “Ela lutou pelas pessoas talentosas [e] quis garantir que as modelos fossem tratadas como mulheres de negócios, não como adereços.” A Ford protegeu tanto seus pupilos que dizem que o lendário fotógrafo Richard Avedon “não ousaria fotografar um minuto a mais da hora extra sem ligar para Eileen primeiro.” Cuidar dos interesses das modelos, tanto financeiros quanto emocionais, foi fundamental ao plano de Chen.

Sua primeira tarefa foi encontrar a equipe certa - pessoas, diz ela, que trabalham “com paixão e [entendem que] a missão é maior do que qualquer uma delas.” Entre elas estava Christopher Michael - um membro fundador da Society Management, a divisão americana da rival de longa data da Ford, a Elite - que ela contratou como diretor de criação.

Nancy Chen (Foto:  Divulgação/ Shawn Brackbill)

Nancy Chen (Foto: Divulgação/ Shawn Brackbill)

A próxima atitude de Chen foi reduzir o "time" (o que eles chamam de modelos) na agenda da Ford, para que a equipe pudesse realmente se concentrar na qualidade - e no cuidado.

Há muitas críticas à indústria dos modelos por permitir que ações exploratórias continuem sem controle. Nos últimos anos, fotógrafos foram acusados ​​de assédio sexual; um veterano da indústria chamou a atenção de diretores de elenco que recusavam modelos negros ou que usavam modelos menores de idade; e, de acordo com um relatório, um grande grupo de modelos foi supostamente forçado a ficar esperando por horas, dentro de uma escada escura, enquanto os diretores de elenco iam almoçar.

Parte do trabalho de Chen é provar que ela está totalmente comprometida em moldar a carreira de cada modelo - seja isso significando desenvolver sua voz na rede social ou personalizando um plano de vida saudável.

“Meu trabalho é garantir que estou lá para eles”, diz Chen. "Eu sou a mãe coruja."

Christopher Michael (Foto:  Divulgação/ Shawn Brackbill)

Christopher Michael (Foto: Divulgação/ Shawn Brackbill)

O visionário
Christopher Michael, CCO


Depois de ingressar na Ford Models em maio de 2017, o diretor de criação Christopher Michael contratou o famoso diretor de arte Fabien Baron - que havia trabalhado com Eileen no passado - para supervisionar a reformulação da marca da agência.

Outra mudança importante que Michael encabeçou foi acabar com o método antiquado de categorizar os modelos por idade ou tipo de corpo. “Abolimos esse sistema que é agora antiquado”, diz Michael. A Ford não emprega mais modelos com menos de 18 anos e começou a recrutar modelos não binários e trans, fechando contrato com Asia Kate Dillon e Andreja Pejíc, respectivamente. Michael se concentrou em “maneiras de ajudar nosso grupo de talentos a contar suas próprias histórias” e, por conta do enorme sucesso das chamadas "garotas do Instagram" como Cara Delevingne e Karlie Kloss, todos na agência estão investindo na construção da presença social de modelos.

Michael também lançou duas séries de vídeos, uma que documenta os interesses externos das modelos - boxe ou pintura, por exemplo - para compartilhar com clientes e um segundo projeto colaborativo com a Models.com, onde líderes da indústria discutem tópicos importantes, desde a diversidade até combinar as qualidades da mídia impressa e digital.

Durante a frenética onda de atividades que antecedem a Semana de Moda de Nova York, Michael é como o controlador de tráfego aéreo da agência. Por volta da terceira semana de agosto, a Ford envia composite - um conjunto de cartões de fotos retratando as 21 modelos que eles estão propondo para a Semana de Moda - via correio para diretores de elenco, que trabalham com os estilistas. As negociações começam imediatamente, com os diretores de elenco competindo para garantir suas melhores escolhas para os desfiles nos quais trabalham e modelos cruzando a cidade para ver diretores de elenco, designers e estilistas e confirmando desfiles. “Certas marcas sabem o que querem, e outras que podem ser conhecidas por lançar novos rostos, farão mudanças até o último minuto”, diz Michael.

Alexis Louison (Foto:  Divulgação/ Shawn Brackbill)

Alexis Louison (Foto: Divulgação/ Shawn Brackbill)

A ligação internacional
Alexis Louison, gerente geral da Ford Paris


À frente do escritório da Ford em Paris, Alexis Louison trabalha com parceiros que buscam novos talentos. Para ele, encontrar o próximo “rosto” tem menos a ver com aparência e mais com brilho. “Hoje, tem a ver com personalidade. Você deve ser cativante nas redes sociais, então o vídeo é muito mais importante do que há cinco anos ”, afirma.

Enquanto algumas novas modelos podem contar com um estilista superstar se apaixonando pelo look delas e escalando-as imediatamente, outras precisam de tempo para aprender a se movimentar, a posar e para ver se gostam do trabalho. Para evitar colocá-las em situações desafiadoras, Louison as envia para os chamados "mercados em desenvolvimento", como Tóquio, ou seu favorito, Singapura - considerado como escolas para modelos de passarela.

São cidades seguras e com mercados menores abertos a novos rostos. “Tentamos garantir que as meninas cheguem às principais Semanas de Moda - Paris, Londres, Milão e Nova York - com o máximo de confiança e experiência possível", diz. 

James Wood  (Foto:  Divulgação/ Shawn Brackbill)

James Wood (Foto: Divulgação/ Shawn Brackbill)

O construtor de carreiras
James Wood, gerente feminino


Para James Wood, que trabalha como gerente na divisão de talentos femininos, seu trabalho como agente é ser uma pessoa proeminente, atendendo a pedidos de certos diretores de elenco. Wood começou estudando moda e percebeu que se preocupava mais com as modelos do que com as roupas.

James Wood, Alexandra Micu e Estelle Chen (Foto:  Divulgação/ Shawn Brackbill)

James Wood, Alexandra Micu e Estelle Chen (Foto: Divulgação/ Shawn Brackbill)

Ele aprendeu muito sobre a importância da Semana da Moda para modelos em todos os estágios de suas carreiras - para iniciantes, essa é a chave para serem notados, enquanto para profissionais mais experientes, tudo se relaciona com o fato de criar um burburinho em torno de participações especiais.

“Me esforço para transformar essas meninas em supermodelos do futuro”, diz ele. “Tem que haver uma estratégia para as novas garotas, porque a superexposição pode ser um problema, mas também pode ser um problema uma garota passar despercebida porque não está participando de todos os desfiles de sucesso”, diz.

 “[Algumas] garotas levarão um ano inteiro para viajar, ganhar dinheiro e decidir que gostariam de ir para a faculdade - a moda não é para todos.” (E alguns novos rostos podem surgir mais tarde. Alguns designers, incluindo Rachel Comey em Nova York ou Simone Rocha em Londres, são conhecidos por usar modelos de meia-idade.)

Jeffrey Schnabolk (Foto:  Divulgação/ Shawn Brackbill)

Jeffrey Schnabolk (Foto: Divulgação/ Shawn Brackbill)


Jeffrey Schnabolk, especialista em novas mídias

“Meu trabalho prova a direção que a indústria está tomando”, diz Jeffrey Schnabolk, que chefia o conturbado departamento de gerenciamento de marcas, lidando com as marcas e organizando aparições em eventos ou coleções-cápsulas.

“Este é um setor e uma carreira que podem ter uma vida útil curta. Não achamos interessante trabalhar com uma garota por quatro anos e depois mandá-la embora, então a questão é: como iremos direcionar este barco? Eu trabalho para amplificar suas vozes.” A chave para dar longevidade à carreira das modelos, diz Schnabolk, é respeitar o público. “Eles sabem o que é genuíno e com o que não estão entusiasmados.”

Fran Summers (Foto:  Divulgação/ Shawn Brackbill)

Fran Summers (Foto: Divulgação/ Shawn Brackbill)

A supermodelo em ascensão
Fran Summers


Fran Summers, nascida em Yorkshire, 21 anos, foi descoberta em um shopping center de Westfield e já apareceu em campanhas da Prada e nas capas da Vogue. 

As modelos costumam ter seus portfólios (também conhecidos como “livros”) em iPads, mas ela prefere a versão mais palpável. “Eu ainda carrego uma cópia física do meu livro, que passou pelas sedes dos designers, showrooms, estúdios”, disse ela à Vogue.

Ela corre pela cidade em um ritmo frenético, tentando comparecer ao maior número de compromissos possível nos poucos dias que antecedem a Semana de Moda - até 10 por dia. Nos compromissos com o casting, ela pode ser solicitada a demonstrar sua caminhada na passarela, o que ela diz ter sido uma curva de aprendizado. “Eu não tinha um andar de modelo natural porque nunca usei salto.” Agora que ela está mais conhecida e conheceu designers e estilistas, ela diz que a experiência dos castings é muito mais conversadora e informal.

Fran Summers (Foto:  Divulgação/ Shawn Brackbill)

Fran Summers (Foto: Divulgação/ Shawn Brackbill)

Quando nos encontramos, ela estava se preparando para abrir o desfile de Tom Ford, dando início a um mês exaustivo de viagens para todas as capitais da moda. Além da agitada agenda de castings, reuniões e experimentação de roupas, não faltam lançamentos de marcas e festas de encerramento em sua agenda. Ela é boa em dizer "não" à maioria das coisas.

À noite, ela geralmente faz uma refeição com amigos ou volta ao hotel, fazendo chamadas de vídeo à sua família e seus cachorros. “Quando pego o trem para casa, em Londres, saindo da Semana de Moda de Paris, já estou muito cansada”, diz ela. Ela tem férias planejadas para quando a loucura acabar: "Depois de tudo isso, vou para a Flórida com minha irmã e meu irmão e vamos para a Disney no Halloween." Um final adequado à frenética Fantasia do Mês da Moda.

Fran Summers (Foto:  Divulgação/ Shawn Brackbill)

Fran Summers (Foto: Divulgação/ Shawn Brackbill)